O post de hoje vai contar a história de uma manifestação que deu certo no Rio de Janeiro, que teve uma pauta de reivindicações e foi um exemplo de civismo para os manifestantes de todo o país. Essa foi a manifestação que aconteceu na Rocinha e que deixou um legado para os moradores.
No dia 18 de setembro aconteceu uma palestra na Semana de Cultura Religiosa na PUC-Rio. O palestrante, que na verdade era um aluno de designer com muita história para contar, foi uma das pessoas que atuaram na frente das manifestações da Rocinha, no Rio de Janeiro. Denis da Costa Neves, de 27 anos, usou as redes sociais para criar o evento da manifestação e não imaginava que ganharia tanta força e que mobilizaria tantos moradores.
As manifestações que tomaram conta do país eclodiram em julho, no mês da Copa das Confederações, que ficou conhecida como "Copa das Manifestações". Fatos marcantes ficaram gravados na memória dos brasileiros como a multidão reunida no centro do Rio de Janeiro, na avenida Presidente Vargas e a confusão que aconteceu no final da manifestação em Brasília com a tomada do teto do Congresso Nacional e o fogo no Palácio do Itamaraty. Os eventos foram organizados pelas redes sociais e conquistaram milhares de pessoas que não aguentavam mais o descaso dos políticos e a situação do Brasil, impregnado de diversos problemas e corrupção. Entretanto, apesar das passeatas começarem pacíficas, grupos pequenos de vândalos tiravam o foco do objetivo, que era reivindicar. A imprensa foi atacada por mostrar apenas as depredações mas chegou uma hora que elas tomaram conta da cena. Carros de reportagem foram atacados e as coberturas jornalísticas se tornavam cada vez mais arriscadas. A mídia ninja tomou força e as pessoas conheceram um novo tipo de jornalismo, com a transmissão instantânea dos acontecimentos por via das redes sociais, que mais uma vez foi um fator importante para dar força ao movimento. A mídia ninja tem o objetivo de ser um veículo de informação sem edição, sem corte e sem interesses .
Na manifestação organizada na Rochinha não houve nenhum tipo de vandalismo ou confusão, nem mesmo lixo na rua, tudo aconteceu em perfeita ordem. Os moradores saíram de suas casas destinados a fazer valer a sua palavra.
Denis foi um dos responsáveis por colocar o plano dos moradores em ação. No início ele foi a campo, pesquisou o que mais faltava na comunidade e, quem diria, chegou até o gabinete do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Ele não esperava conseguir o apoio de tantos moradores, 2 mil pessoas confirmaram a presença na passeata. No dia da manifestação, os lugares que cercavam a comunidade estavam apreensivos e muitos estabelecimentos comerciais fecharam as portas temendo o quebra-quebra que ocorre no final. Em resposta à apreensão das pessoas, os moradores responderam : " Galera! Somos da comunidade carente, mas somos um povo educado. Então nada de máscaras, nós não precisamos cobrir a cara. Vamos mostrar para a sociedade quem somos", respondeu Érica Santos, amiga de Denis.
Depois da repercussão positiva da manifestação, Denis recebeu muitos telefonemas de políticos querendo criar uma carreira política para o estudante. Denis afirmou na palestra que nunca passou pela sua cabeça esse tipo de pretensão.
"Não estou aqui para ser político, não é isso que eu quero, a gente só estava lá para reivindicar os nossos direitos. Não estou estudando para isso, passa longe da minha meta profissional", exaltou Denis com convicção de que não vai se filiar a nenhum partido político.
Como fruto dos protestos, foi criada a Comissão de Moradores da Rocinha. No início, o governo propôs uma remuneração pelo "trabalho" de levar à eles as reivindicações da comunidade. Entretanto, para o espanto do governo, eles recusaram qualquer tipo de remuneração já que essa atitude não era ética. Não daria certo falar mal do patrão. No entanto, eles conseguiram conquistar muitos objetivos propostos na pauta de reivindicações. Na carta que levaram ao prefeito Eduardo Paes, eles pediram "a participação direta da comunidade nos temas que envolvem o cotidiano ", além das questões da saúde, coleta seletiva de lixo, creches e obras de infraestrutura. O que a Comissão almeja é ser a sua própria representante e não ser mais representada por pessoas que não zelam por seus interesses a abandonam a comunidade.
Segundo Denis esse foi o primeiro passo para a conquistar de muitas coisas na comunidade. Agora as pessoas respeitam e tem confiança na Comissão e com isso o peso das responsabilidades de Denis cresceu e agora ele se divide entre a faculdade e a Comissão, propondo pautas e observando o que tem que ser melhorado na Rocinha.
Entre as conquistas está a realização de obras emergenciais na comunidade. Até hoje eles estão envolvidos nos projetos da comunidade e não pretendem deixar de lado os seus objetivos e voltar para o conformismo. Esse foi o início de uma nova mentalidade para a comunidade e deixou uma lição importante de civismo para a sociedade. Agora existe mais uma pauta que é a resposta sobre o que aconteceu com o Amarildo, um ajudante de pedreiro que está desaparecido desde o dia 14 de julho quando foi abordado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora.
Quando existe uma pauta de reivindicações e uma liderança, a manifestação tem um objetivo concreto para cumprir e ganha mais chances de sucesso.
Denis da Costa Neves, de 27 anos, estudante da PUC-Rio. |
Veja a repercussão internacional da Manifestação :
Muito bom o texto! O Blog continua a cada dia melhor parabéns!
ResponderExcluirObrigada, que bom que vc gostou! :)
ExcluirBeijos
Tudo que é organizado com responsabilidade, está provado que gera bons frutos. Parabéns ao Denis pela bela manifestação, exemplo para muitos.
ResponderExcluirÉ verdade, precisamos de mais jovens assim.
ExcluirObrigada :)