Olá,
O post de hoje é uma entrevista, quase em forma de poesia, com o professor de fotojornalismo da PUC-Rio, Weiler Finamore Filho.
Weiler estudou geografia na PUC e fotografia no SENAC. Ele foi o meu professor no período passado e o responsável por despertar o meu interesse pela fotografia. Em um dos meus primeiros posts, eu escrevi sobre o trabalho que ele passou, uma tentativa de treinar o olhar, clique aqui. Nessa entrevista ele vai contar um pouco da sua história, vai mostrar sua visão sobre a fotografia e sobre o mercado de trabalho para fotojornalistas.
1) Se você fosse resumir sua vida profissional como seria?
Weiler - Uma grande obra do acaso, diria que assim como as grandes
fotografias minha caminhada é uma soma de elementos e fatos que conectados
ainda tem muito por compor esta existência, espero que ao final dela seja uma
grande e bela foto, até aqui do ponto de vista estético vai tudo muito bem, mas
não basta, tem de ter composição e conteúdo, como Fotógrafo e Geógrafo isto
nunca me faltará, resta seguir tradição de ambos, e continuar a desenhar o
mundo que nos envolve através da percepção e imagens.
2) O que é a fotografia para você?
Weiler - Mais que uma expressão artística ou estética, a fotografia
é expressão dos sentidos e sentimentos, uma filosofia, beira a utopia ao nos
vislumbrar ou profetizar o que está por vir quando da captura do
instante/momento decisivo, este que é resumo do todo que nos envolve em uma
fração do tempo, do todo porvir principalmente, e é por isso que sempre ficamos
perplexos ao contemplar cada possibilidade a fotografia promove.
3) Como ela entrou na sua vida?
Weiler - Tinha 12 anos no início dos anos 80 quando meu pai me
presenteou com uma Nikkormat FT2, era uma de suas máquinas, ele na época me
dava um filme de 36 poses para utilizar durante um mês ou dois, o que me fazia
pensar muito antes de clicar, muito diferente dos dias atuais onde os cliques
sem propósito e quantidade de fotos tiradas diariamente banalizam as imagens
mundo afora. Esta restrição compulsória de registros condicionou meu método e critério na hora de fazer as fotos,
nenhum “frame” poderia ser desperdiçado, faltava película para as fotos que
surgiam diante do olhar ou mesmo da técnica que selecionava cada instante a ser
eternizado. De certa forma esta restrição acabou por me fazer não parar nunca
de tirar fotos, pois sempre tinha uma foto por tirar ou algo a me atrever a
capturar a realidade. Ainda hoje tenho esta FT2.
4) Você considera que existe uma fórmula para a fotografia
perfeita?
Weiler - O olhar... leva muito tempo para se desenvolver um olhar ao
ponto de saber o momento e exato instante de captura de uma cena, continuo e
tento ainda hoje a desenvolver este olhar, diria ainda que para esta fórmula
devemos observar não somente o sentido da visão, mas todos os sentidos, em
harmonia eles nos conduzem através da dimensões espaço e tempo o que certa
forma nos permite prever.
5)O que não pode faltar em uma fotografia?
Weiler - Sentimentos e sentidos, todas elas de algum modo exprimem
sentimentos e nos estimulam algum dos sentidos, quando uma foto nos conduz
através de todos os sentidos diria alcançamos outra dimensão sem sair do lugar,
uma espécie de teletransporte que só a
foto consegue fazer sentir.
6) Como podemos diminuir os ruídos na foto?
Weiler - Técnica e mais uma vez o olhar, nestes tempos de
democratização fotográfica, uma banalização acompanha e toma a linguagem
fotográfica na medida em que milhares de fotografias são tiradas diariamente,
surge um ruído não apenas no método(fotografia) que se dilui em tantas imagens
diariamente, mas na técnica que passa ser irrelevante diante da tecnologia que
faz tudo. No entanto, este arsenal da indiferença na fotografia, acaba por
fazer a boa fotografia ou o bom olhar se destacar até mais que antes, o ruído
emoldura o que é perfeito, diminuir este é apreender fotografia em cada clique
e atenuar o seu uso ou aspecto em favor da informação, pois interfere a deturpa
na maioria dos casos.
7) Qual é o papel de um fotojornalista?
Weiler- Ser o mais fiel possível aos fatos, e como “uma fotografia
vale por mil palavras” esta possibilidade se multiplica através da técnica e do
olhar, uma mesma foto pode ter significado distintos, deixar claro os
significados é papel do repórter fotográfico, e sim isto é possível na medida
em que a expressão em termos visuais ganha significado e sentido para todo
espectador, ainda que não tenha respostas o questionamento e interrogação é o legado
de toda e qualquer fotografia.
8) Qual é a maior dificuldade no dia-a-dia de um
fotojornalista?
Weiler - Diria que na atualidade serem duas somente, primeiro a
violência que não poupa ninguém principalmente os repórteres fotográficos,
segundo este ruído que a própria sociedade ocidental gera nas ruas e cidades, a
poluição visual é tão grande que em muitos casos serve até de moldura, porém
capturar este instantes expressivos é tarefa mais complexa nos dias atuais, e
prova disto é justamente um resgate do trabalho do fotojornalista mundo afora,
onde em alguns casos o seu trabalho alcança status de grande valor artístico
por atingir contextos e temas significativos na sociedade atual
9) Qual a fotografia você considera que ''falou mais do
que mil palavras''?
Weiler - Não tenho uma foto favorita, mas várias! Este clichê vale
apenas para justificar o porquê da fotografia ser algo tão contundente desde
sua invenção em 1839, não importa o tempo, cultura ou expressão ela terá mais
de mil interpretações, claro cada um vê a foto, ainda que uma mesma foto, de um
maneira particular! por isso o provérbio, tanto que existe uma contra-partida
desta frase, se “uma imagem vale por mil palavras” qual foto conseguiria
representar esta frase? desconheço... mesmo porque as grandes fotos tem um significado quase sempre bastante explícito e objetivo, não é vaga ou
subjetiva.
10) Você considera que existe um momento decisivo na hora
do clique?
Weiler - Sim, sem dúvidas capturar ele é o desafio de todo fotógrafo
que compreende o que e como fazer uso correto da luz projetada pela realidade a
sua volta, daí a conseguir o “momento decisivo” depende de muita competência,
ou então uma pitada de sorte pois muito são os cliques impecáveis que são na
verdade uma grande obra do acaso, mas claro o fotógrafo tem de conduzir a
técnica antes da sorte trabalhar, ou seja, o mérito é justificado.
11) Quais são os fatores que influenciam na hora do
fotografo fazer o recorte da realidade?
Weiler - Técnica e olhar, digo isso sempre pois de nada adianta ter
o equipamento de ponta sem saber usá-lo! e isso ocorre na mesma medida em que
bastasse a sensibilidade o fotógrafo não seria nunca necessário, simples, este
profissional deve sempre apurar o olhar ao passo que sua técnica permita
vislumbrar mais e mais possibilidades sobre ou a respeito da realidade, mas
como?
Ao se comprometer com a técnica e o olhar, o arranjo das
informações em termos visuais torna-se mais fácil de notar e prever, desta
forma os fatos sob a forma de uma imagem ganham expressão e significado na
grande maioria das situações! É disto que se trata o momento decisivo, a
capacidade de resumir em uma fração ou instante do tempo elementos e objetos
suficientes que justifiquem e ao mesmo tempo questionem o que a imagem projeta
na fotografia!
12) Qual dica você daria para quem está começando a
fotografar?
Weiler - Começar com um equipamento analógico tirando fotos em
película seria uma experiência bastante rica, mas isso é pra aquele que trata
da fotografia mais como um hobby, já para quem quer investir e trabalhar tem
que comprar uma máquina mais simples para aprender de início os fundamentos da
fotografia na prática, e junto a prática estudar muito, seja em uma graduação,
curso de extensão ou mesmo revistas e internet, se informar ao máximo a
respeito deste mundo da fotografia pois as atualizações e novas técnicas
surgem cada vez mais rápido, e para acompanhar só lendo e se informando ao
máximo.
13) Como é o mercado de trabalho para fotojornalistas?
Weiler - Vejo o mercado da fotografia com um futuro promissor, e
assim também o do fotojornalista. Temos dois grandes eventos que já movimentam
bastante as oportunidades no médio prazo, mas percebo uma maior apreciação pela
fotografia por parte do brasileiro, principalmente, e das pessoas mundo afora
em geral, talvez pela facilidade de acesso da tecnologia e conhecimento
fotográfico, mas também por estarmos compreendendo que neste mundo não cabem
mais as informações desconexas ou sem sentido, e a contribuição do
fotojornalismo que já se mostrou ao longo das décadas mais que oportuno, ganha
agora o reconhecimento do público como expressão da cultura universal, ou seja,
quanto mais foto e melhor ela for mais chances da verdade e do mundo evoluírem
juntos, isso é o futuro, a evolução e a verdade sempre para todos, pilares de
um planta saudável e de uma sociedade justa. Neste a sentido a fotografia ganha
cada vez mais reconhecimento e adeptos desta prática, filosofia ou estilo de
vida.
Beijos,
Boa entrevista!, fotografia e uma arte!
ResponderExcluirObrigada !
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