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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Entrevista com o professor Weiler Filho

Olá,
O post de hoje é uma entrevista, quase em forma de poesia, com o professor de fotojornalismo da PUC-Rio, Weiler Finamore Filho. 

Weiler estudou geografia na PUC e fotografia no SENAC. Ele foi o meu professor no período passado e o responsável por despertar o meu interesse pela fotografia. Em um dos meus primeiros posts, eu escrevi sobre o trabalho que ele passou, uma tentativa de treinar o olhar, clique aqui. Nessa entrevista ele vai contar um pouco da sua história, vai mostrar sua visão sobre a fotografia e sobre o mercado de trabalho para fotojornalistas. 




1) Se você fosse resumir sua vida profissional como seria?

Weiler - Uma grande obra do acaso, diria que assim como as grandes fotografias minha caminhada é uma soma de elementos e fatos que conectados ainda tem muito por compor esta existência, espero que ao final dela seja uma grande e bela foto, até aqui do ponto de vista estético vai tudo muito bem, mas não basta, tem de ter composição e conteúdo, como Fotógrafo e Geógrafo isto nunca me faltará, resta seguir tradição de ambos, e continuar a desenhar o mundo que nos envolve através da percepção e imagens. 

2) O que é a fotografia para você?

Weiler - Mais que uma expressão artística ou estética, a fotografia é expressão dos sentidos e sentimentos, uma filosofia, beira a utopia ao nos vislumbrar ou profetizar o que está por vir quando da captura do instante/momento decisivo, este que é resumo do todo que nos envolve em uma fração do tempo, do todo porvir principalmente, e é por isso que sempre ficamos perplexos ao contemplar cada possibilidade a fotografia promove.

3) Como ela entrou na sua vida?

Weiler - Tinha 12 anos no início dos anos 80 quando meu pai me presenteou com uma Nikkormat FT2, era uma de suas máquinas, ele na época me dava um filme de 36 poses para utilizar durante um mês ou dois, o que me fazia pensar muito antes de clicar, muito diferente dos dias atuais onde os cliques sem propósito e quantidade de fotos tiradas diariamente banalizam as imagens mundo afora. Esta restrição compulsória de registros condicionou meu  método e critério na hora de fazer as fotos, nenhum “frame” poderia ser desperdiçado, faltava película para as fotos que surgiam diante do olhar ou mesmo da técnica que selecionava cada instante a ser eternizado. De certa forma esta restrição acabou por me fazer não parar nunca de tirar fotos, pois sempre tinha uma foto por tirar ou algo a me atrever a capturar a realidade. Ainda hoje tenho esta FT2. 

4) Você considera que existe uma fórmula para a fotografia perfeita?

Weiler - O olhar... leva muito tempo para se desenvolver um olhar ao ponto de saber o momento e exato instante de captura de uma cena, continuo e tento ainda hoje a desenvolver este olhar, diria ainda que para esta fórmula devemos observar não somente o sentido da visão, mas todos os sentidos, em harmonia eles nos conduzem através da dimensões espaço e tempo o que certa forma nos permite prever.

5)O que não pode faltar em uma fotografia?

Weiler - Sentimentos e sentidos, todas elas de algum modo exprimem sentimentos e nos estimulam algum dos sentidos, quando uma foto nos conduz através de todos os sentidos diria alcançamos outra dimensão sem sair do lugar, uma espécie de  teletransporte que só a foto consegue fazer sentir. 

6) Como podemos diminuir os ruídos na foto?

Weiler - Técnica e mais uma vez o olhar, nestes tempos de democratização fotográfica, uma banalização acompanha e toma a linguagem fotográfica na medida em que milhares de fotografias são tiradas diariamente, surge um ruído não apenas no método(fotografia) que se dilui em tantas imagens diariamente, mas na técnica que passa ser irrelevante diante da tecnologia que faz tudo. No entanto, este arsenal da indiferença na fotografia, acaba por fazer a boa fotografia ou o bom olhar se destacar até mais que antes, o ruído emoldura o que é perfeito, diminuir este é apreender fotografia em cada clique e atenuar o seu uso ou aspecto em favor da informação, pois interfere a deturpa na maioria dos casos.  

7) Qual é o papel de um fotojornalista?

Weiler- Ser o mais fiel possível aos fatos, e como “uma fotografia vale por mil palavras” esta possibilidade se multiplica através da técnica e do olhar, uma mesma foto pode ter significado distintos, deixar claro os significados é papel do repórter fotográfico, e sim isto é possível na medida em que a expressão em termos visuais ganha significado e sentido para todo espectador, ainda que não tenha respostas o questionamento e interrogação é o legado de toda e qualquer fotografia.

8) Qual é a maior dificuldade no dia-a-dia de um fotojornalista?

Weiler - Diria que na atualidade serem duas somente, primeiro a violência que não poupa ninguém principalmente os repórteres fotográficos, segundo este ruído que a própria sociedade ocidental gera nas ruas e cidades, a poluição visual é tão grande que em muitos casos serve até de moldura, porém capturar este instantes expressivos é tarefa mais complexa nos dias atuais, e prova disto é justamente um resgate do trabalho do fotojornalista mundo afora, onde em alguns casos o seu trabalho alcança status de grande valor artístico por atingir contextos e temas significativos na sociedade atual

9) Qual a fotografia você considera que ''falou mais do que mil palavras''?

Weiler - Não tenho uma foto favorita, mas várias! Este clichê vale apenas para justificar o porquê da fotografia ser algo tão contundente desde sua invenção em 1839, não importa o tempo, cultura ou expressão ela terá mais de mil interpretações, claro cada um vê a foto, ainda que uma mesma foto, de um maneira particular! por isso o provérbio, tanto que existe uma contra-partida desta frase, se “uma imagem vale por mil palavras” qual foto conseguiria representar esta frase? desconheço... mesmo porque as grandes fotos tem um significado quase sempre bastante explícito e objetivo, não é vaga ou subjetiva.

10) Você considera que existe um momento decisivo na hora do clique?

Weiler - Sim, sem dúvidas capturar ele é o desafio de todo fotógrafo que compreende o que e como fazer uso correto da luz projetada pela realidade a sua volta, daí a conseguir o “momento decisivo” depende de muita competência, ou então uma pitada de sorte pois muito são os cliques impecáveis que são na verdade uma grande obra do acaso, mas claro o fotógrafo tem de conduzir a técnica antes da sorte trabalhar, ou seja, o mérito é justificado.

11) Quais são os fatores que influenciam na hora do fotografo fazer o recorte da realidade?

Weiler - Técnica e olhar, digo isso sempre pois de nada adianta ter o equipamento de ponta sem saber usá-lo! e isso ocorre na mesma medida em que bastasse a sensibilidade o fotógrafo não seria nunca necessário, simples, este profissional deve sempre apurar o olhar ao passo que sua técnica permita vislumbrar mais e mais possibilidades sobre ou a respeito da realidade, mas como?
Ao se comprometer com a técnica e o olhar, o arranjo das informações em termos visuais torna-se mais fácil de notar e prever, desta forma os fatos sob a forma de uma imagem ganham expressão e significado na grande maioria das situações! É disto que se trata o momento decisivo, a capacidade de resumir em uma fração ou instante do tempo elementos e objetos suficientes que justifiquem e ao mesmo tempo questionem o que a imagem projeta na fotografia! 

12) Qual dica você daria para quem está começando a fotografar?

Weiler - Começar com um equipamento analógico tirando fotos em película seria uma experiência bastante rica, mas isso é pra aquele que trata da fotografia mais como um hobby, já para quem quer investir e trabalhar tem que comprar uma máquina mais simples para aprender de início os fundamentos da fotografia na prática, e junto a prática estudar muito, seja em uma graduação, curso de extensão ou mesmo revistas e internet, se informar ao máximo a respeito deste mundo da fotografia pois as atualizações e novas técnicas surgem cada vez mais rápido, e para acompanhar só lendo e se informando ao máximo.

13) Como é o mercado de trabalho para fotojornalistas?

Weiler - Vejo o mercado da fotografia com um futuro promissor, e assim também o do fotojornalista. Temos dois grandes eventos que já movimentam bastante as oportunidades no médio prazo, mas percebo uma maior apreciação pela fotografia por parte do brasileiro, principalmente, e das pessoas mundo afora em geral, talvez pela facilidade de acesso da tecnologia e conhecimento fotográfico, mas também por estarmos compreendendo que neste mundo não cabem mais as informações desconexas ou sem sentido, e a contribuição do fotojornalismo que já se mostrou ao longo das décadas mais que oportuno, ganha agora o reconhecimento do público como expressão da cultura universal, ou seja, quanto mais foto e melhor ela for mais chances da verdade e do mundo evoluírem juntos, isso é o futuro, a evolução e a verdade sempre para todos, pilares de um planta saudável e de uma sociedade justa. Neste a sentido a fotografia ganha cada vez mais reconhecimento e adeptos desta prática, filosofia ou estilo de vida.

Beijos, 


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