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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Entrevista com o jornalista Leonel Aguiar

Olá,
O post de hoje é uma entrevista com Leonel Aguiar, coordenador do curso de Comunicação Social da PUC-Rio. Possui Doutorado e Mestrado em Comunicação e Cultura e ministra as aulas de pós-graduação em comunicação.

Leonel fez Comunicação Social, habilitação em jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Depois da graduação, fez o mestrado e o doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ. Começou a fazer estágio no meio da faculdade, primeiro em um jornal de bairro, chamado Rio Zona Sul, onde colocou na prática os fundamentos do jornalismo: pauta, reportagens, fazer a própria redação, a fotografia e a edição. Logo depois, foi para uma Assessoria de Comunicação da Confederação Nacional da Indústria. Atualmente, Leonel é o coordenador do cuso de Comunicação Social da PUC-Rio. Nessa entrevista ele vai falar sobre o imapacto causado pelo fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo e sobre o mercado de trabalho na comunicação.

1) Como surgiu a sua vontade de ser jornalista?

Leonel - Eu sempre gostei de ler jornal mas não tinha uma pessoa, uma figura profissional que eu admirasse no jornalismo e nem tinha essa tradição na família. Ma foi um pouco no segundo grau, quando eu estuda na Escola Técnica Federal. Tínhamos um grupo de amigos que eram os dissidentes da área tecnológica, de engenharia.  E eu e mais dois amigos desse grupo viramos jornalistas. Fomos para a UFF, um até hoje em dia é Editor do Fantástico, desde a época que nos formamos e o outro trabalha na Globo News em um programa de literatura. Foi nesse círculo de amigos, que frequentávamos teatro e  cinema juntos. Tentamos ensaiar um jornal na época mas não deu certo porque estava na época da ditadura militar, a instituição cortou o nosso projeto. Fomos chamados pela direção para saber que história era essa de jornal. Mas foi um pouco por aí, eu era leitor também da imprensa alternativa, do Jornal Pasquim, eu gostava muito daquele jornal e do estilo de texto, e do próprio Jornal do Brasil, que tinha a ideia de ser um jornal de resistência à ditadura militar. Então foi pela minha admiração pessoal em relação ao trabalho que os jornalistas faziam na época da ditadura militar.

2) Qual foi o impacto do fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo no curso? Você considera que foi uma atitude prejudicial e que pode interferir na qualidade do jornalismo?

Leonel -   Eu sou um defensor do diploma. Inclusive estive no Congresso Nacional, há dois anos atrás, convidado por um dos deputados que está no centro da Comissão no Congresso Nacional que está fazendo uma proposta de emenda a Constituição para a volta do diploma. É basicamente separar na Constituição, já que diploma caiu por causa disso, o exercício profissional da profissão e liberdade de expressão. A liberdade de expressão, a liberdade de opinião é algo garantido pela Constituição e que todo brasileiro é livre para expressar a sua própria opinião, desde que observado as leis ordinárias de  regulamentação profissional. Então é algo muito simples. É óbvio que eu defendo a questão da obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional . Isso também é outra confusão porque todos dizem "ninguém é contra o diploma" mas aí quem diz isso também diz que é conta o diploma obrigatório. Essa é uma briga grande que parou lá no Supremo Tribunal Federal, por sua vez, antes do Supremo tinha algo com a Organização dos Estados Americanos, a OEA, com a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O aconteceu foi que na Costa Rica, um país onde o diploma é obrigatório para o exercício da profissão, um jornalista que escrevia para um jornal chamado Chico Times e foi preso pelo exercício ilegal da profissão. Nos Estados Unidos, eles consideram que o jornalismo é uma profissão livre e que portanto, não precisa do diploma, qualquer um que queira pode ser apresentar no jornal e começar a trabalhar. Então a OEA e a Corte Interamericana de Direitos Humanos entraram com um processo contra o governo da Costa Rica pela questão do diploma e daí foram criando as jurisprudências que teve em 2009 no Brasil no Supremo, dizendo que todo obstáculo à liberdade de expressão se constitui um atentado à esse direito humano fundamental.  Eu não concordo com essa tese, que para mim, é inaceitável do ponto de vista democrático. Agora no Congresso Brasileiro de Jornalismo Investigativo, veio a pessoa da Unesco aqui e da ONU, falando a mesma coisa, que todo obstáculo à liberdade de expressão é um atentado. Ei acredito que o que impede a liberdade de expressão da sociedade brasileira não é o diploma obrigatório, mas sim o monopólio dos meios de comunicação de massa. É a concentração da mídia na mão de uns poucos empresários no Brasil. Eu acho que a obrigatoriedade do diploma, além de todas as questões que eu abordei, pode ser uma garantia de que as informações jornalísticas vão ser produzidas com um melhor patamar ético e com mais responsabilidade social. Então lutamos pela obrigatoriedade do diploma para que quem ganhe com isso não seja apenas a categoria profissional dos jornalistas, não é uma questão corporativa, é, antes de tudo, a possibilidade de garantir para a sociedade a produção de informação jornalística de melhor qualidade. Aqui na PUC não teve uma diminuição da procura pelo curso e eu tenho mapeado a situação pelo Brasil e os relatos que eu recebe é que não houve uma queda substancial na procura.

3) Como você analisa o atual cenário do mercado de trabalho na comunicação?

Leonel - O mercado na comunicação de uma maneira geral, vai bem, está em franca expansão. No jornalismo, mais especificamente, com o aparecimento da internet , das mídias digitais, abriu um novo campo de trabalho. Agora, a grande novidade é o jornalismo em dispositivos móveis, no Brasil, só temos duas experiências até o momento: O Estadão Noite e O Globo A Mais , que são produtos jornalísticos voltados para o Tablet e que entram no ar a partir das 6 horas da tarde. É a recuperação dos vespertinos, os jornais que saem no final da tarde, algo que desapareceu quando a televisão, de fato se tornou mais comercial na década de 1960. O jornalismo de dispositivos móveis pode ser o retorno desse tipo de jornalismo. É uma experiência nova, que está começando. Temos também a produção do jornalismo nas redes sociais. A questão é a seguinte, está em expansão mas será que os salários vão se manter em um bom patamar?  ou vai haver queda na questão salarial?

No cinema, ou no audiovisual, também encontramos uma grande expansão, do mesmo modo que temos o apagão na área de engenharia, no qual o Brasil precisa de 70 mil engenheiros mas só forma 30 mil, temos o mesmo buraco em relação a roteiristas para seriados de televisão. Com a nova lei do audiovisual, as televisões a cabo têm que ter sempre algo nacional na sua grade. Não tem gente para escrever esse tipo de roteiro. Do mesmo modo que o governo está fazendo com o programa Mais Médicos, as empresas estão fazendo com os roteiristas, importando  de outros países. 

Beijos,



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