Olá,
O
post de hoje é uma entrevista com o jornalista André Trigueiro, professor de Jornalismo
Ambiental na PUC-Rio, editor-chefe do programa Cidades e Soluções, na Globo News e repórter da Rede Globo. André
também tem um quadro quinzenal sobre sustentabilidade no Jornal da Globo e apresenta o Bom Dia Rio e o RJTV
eventualmente .
André
Trigueiro é um jornalista especialista em meio ambiente, que trabalha com
rádio, TV e internet. Ganhador de diversos prêmios, como o Prêmio Imprensa
Embratel de Televisão e o Prêmio Ethos - Responsabilidade social, na categoria
Televisão em 2013, pela série Água, o desafio do século XXI. Já participou da cobertura das eleições presidenciais de 2004, nos EUA, da 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas Sobre Mudanças de Clima, em 2009, em Copenhague e da cobertura dos dez anos dos atentados de 11 de setembro em Nova York. Nessa entrevista
ela fala sobre o meio ambiente, o jornalismo e o futuro.
1) Da onde surgiu o seu
interesse pelas questões ambientais?
A
cobertura da Rio + 20, em 1992, pela então Rádio Jornal do Brasil, foi muito
determinante do apetite que eu passei a ter de entender melhor isso e enquanto
jornalista e cidadão procurar me informar melhor. Traduzir nos meus ofícios
enquanto jornalista e comunicador esses novos saberes ambientais que para mim
fazem muito sentido e determinam um senso de urgência na busca por um outro
modelo de desenvolvimento.
2)
Na faculdade você já pesquisava sobre esse tema?
Não
da forma como eu passei a pesquisar depois. Eu sempre tive afinidade com os
assuntos ambientais, cheguei a pensar em ser veterinário uma época da minha
vida eu tinha muita afinidade com a questão do bem-estar do animal. Moro em uma
rua arborizada, muito bonita, que desperta essa sensibilidade pela beleza
natural do Rio de Janeiro, em Laranjeiras. Isso eu acho que foi sempre um fator
importante na minha percepção da importância desse tema.
3)
Como o jornalismo pode ajudar nas questões ambientais?
Denunciando
o que está errado, o que significa a perda da qualidade de vida, perda das
próprias condições da economia se manter pujante, já que toda ele está calcada
nos recursos naturais, produção de energia, produção de alimento ..., que seja,
todos os setores da economia têm a sua base ambiental. E também sinalizando
rumos e perspectivas, mostrando qual é o caminho, quais são os projetos, os
bons exemplos, as boas atitudes. Mostrar quais são os governos, empresas,
pessoas, universidades, escolas, ONGs, tradições religiosas , que se destacam
na busca pelas respostas de como podemos permanecer nesse planeta sem repactuar
a relação estabelecida com a nossa casa planetária. Ou mudamos ou sucumbimos,
que dizer, mudar não é uma opção, uma alternativa, é um determinismo na busca
de algo diferente do que está aí.
4)
Por que o tema do meio ambiente ainda não é matéria obrigatória para estudantes
de jornalismo, já que esse é um problema real da sociedade atual e uma espécie
de bomba-relógio, que vai afetar grande parte da população?
A
minha percepção é que essa disciplina de fato deveria estar ocupando a grade
obrigatória dos alunos de comunicação pelas razões expostas.
5)
Você escreveu sobre a tensão do pré-sal no seu blog. Esses problemas que decorrem da exploração do
petróleo, como os vazamentos, são negligenciados pela sociedade, como se as
pessoas fechassem os olhos para esses problemas?
É
possível, não temos pesquisas especificamente
para aferir o humor da sociedade em relação a esse tema. O que de fato
existe é muita desinformação, existe um encantamento com os discursos
políticos, prometendo receitas fabulosas, jamais vistas, que vamos ter, a
partir da exploração do petróleo no Brasil, no Campo de Libra. E na verdade, o
papel do jornalista é problematizar a questão e mostrar outros lados. Eu não
sou contra propriamente a exploração do
pré-sal mas eu acho um absurdo um leilão acontecer sem os protocolos de
segurança bem definidos, um Plano Nacional de Contingência. As operadoras que
entraram no leilão, entraram no escuro, sem saber quais são as regras do jogo.
Então continuamos improvisando muito onde não devia. Não é só a questão do
pré-sal, isso tem a ver com deslizamento de encostas da região serrana do Rio,
isso tem a ver com a boate Kiss de Santa Maria. O Brasil não presta muito
atenção em prevenção de desastres e quando eles acontecem, todos ficamos
estupefatos, surpresos, indignados . Não podemos errar com o pré-sal, os
acidentes acontecem, são rotineiros. Não há como não haver vazamentos na camada
pré-sal e eu não sei até agora, com toda franqueza, qual seria a resposta dos
Ministérios e dos poderes que estariam relacionados nesse Plano Nacional de
Contingência em uma situação de emergência, isso é improviso, isso é algo que
não deveria estar acontecendo e não sou eu quem diz. Eu cito na reportagem citada por você, do G1, que talvez
o parceiro mais importante da Petrobrás na academia, que é o professor Segen
Estefan, da UFRJ, reiterada vezes disse: " o Brasil não deve ser apenas
referência de exploração do petróleo em águas profundas mas deve ser referência
em segurança na exploração do petróleo".
6)
Vivemos em uma sociedade que está esgotando seus recursos e que tem um futuro
incerto se não começarmos a mudar de atitude já. Segundo o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o homem é o principal
agente responsável pelo aquecimento global. Você vê o futuro com otimismo? Acha
possível que países como os Estados Unidos deixem os interesses econômicos em
prol do meio ambiente e de uma visão menos individualista?
A
humanidade não nasceu para promover o desaparecimento da nossa espécie. Nós não
somos suicidas. O meu temor é que a consciência apareça em um cenário bastante
difícil de remediar. O mundo não vai acabar por causa da mudança no clima mas
ele já está se transformando em um lugar mais hostil à nossa presença. A conta
que deve ser feita é : quanto mais cedo
fizermos as mudanças na matriz energética, fontes mais limpas e
renováveis, menos desmatamento, menos lixo apodrecendo a céu aberto, mais
tecnologia e eficiência no consumo de energia, menos custoso, oneroso e sofrido
será esse processo. Infelizmente, na cultura política permanece o curto prazo,
o que você pode resolver no tempo do seu mandato. Isso é trágico quando o
assunto é mudança no clima porque estamos falando de um período mais abrangente
de tempo. Então eu não sou nem otimista nem pessimista, eu sou realista. Acho
que precisamos fazer a nossa parte na busca por soluções sustentáveis que são
em favor da vida e da qualidade de vida no médio prazo.
7)
Você trabalha com rádio, TV e internet. Como é ser um jornalista
multiplataforma?
Eu
acho que todo jornalista no século XXI deve prestar atenção nessa possibilidade
de praticar o ofício em diferentes plataformas. É um aprendizado que para a
geração de vocês é muito mais fácil que foi para a minha. Então, acho necessário,
nesse mundo onde todas os modais de comunicação se reúnem nas redes virtuais,
que a gente na medida do possível procure estar aberto à esse aprendizado. Que
não neguemos a oportunidade de aprender diferentes ofícios dentro do jornalismo.
8)
Você acha que as pessoas só vão começar a agir em relação ao meio ambiente
quando sentirem na pele os efeitos das mudanças climáticas?
É
humano que a gente, via de regra, só procure se prontificar a resolver um problema
quando ele se torna insuportável. Mas ainda há tempo de mudarmos essa regra e
mais do que nunca, todas as informações que emergem da comunidade científica em
favor das mudanças estão muito claras e bem apresentadas. Eu acho que a gente
tem uma chance de ouro de fazer diferente e há exemplos no mundo, como China,
EUA, Alemanha, mesmo no Brasil, onde muitas mudanças estão acontecendo.
9)
Qual o conselho para quem quer ser jornalista?
Que
tenha, na medida do possível, a tranquilidade de seguir em frente. O mundo,
mais do que nunca, precisa de jornalismo. O jornalismo é necessário e tem uma
função social muito importante, especialmente em períodos de crise. Quem tem a
vocação haverá de se encaixar em algumas das muitas possibilidades, mais
numerosas do que no tempo que eu me formei, para descobrir, em que veículo e de
que maneira você vai cumprir essa função. Eu acho que tem que ter tranquilidade
no período que está estudando, reconhecer que nunca estaremos prontos. A gente
está sempre tendo que buscar informações, descobrir como certas histórias acontecem.
Nunca paramos de reciclar os conhecimentos. É uma profissão muito dinâmica,
bonita e importante. Eu tenho orgulho de ser jornalista e não importa, com ou sem
diploma, com um arcabouço tecnológico diferente, por conta das novas mídias ...
tudo isso não dilui e não deve escurecer o desejo, o sonho de uma pessoa,
enquanto jornalista, ser um contador de histórias e essas histórias serem
inspiradoras e determinantes na promoção de um mundo melhor e mais justo.
10)
Você defende a obrigatoriedade do diploma?
Defendo
o diploma por entender que ele qualifica a profissão de jornalista mas se não
tiver exigência de diploma, as grandes empresas de comunicação, como no caso
das Organizações Globo, só vão contratar quem tem diploma, já na presunção de
que são profissionais mais preparados, são pessoas que já vêm em melhor
condição para serem funcionários de uma empresa de comunicação do que alguém
que entra cru na redação, eventualmente não tem uma cultura geral razoável, não
sabe direito a discussão sobre lead, não está com as ferramentas jornalísticas
bem apuradas no seu aprendizado até então.
Excelente, gente que não pensa apenas no dia de hoje, mas pensa no futuro das muitas gerações que virão. VIVA O VERDE E A ÁGUA DO PLANETA!
ResponderExcluirCom relação a ter ou não diploma, não vejo pelo lado poético, gosto disso, vou fazer isso, sim, mas fazer com profissionalismo é importante para toda a sociedade, que será o produto final. Os meios sim, justificam o fim. É o meu pensamento.
Obrigada! Devemos pensar o mais rápido possível em soluções sustentáveis para melhorar a vida no planeta. E o diploma é essencial para qualidade da profissão, mas com ele ou sem ele, ainda vale a pena fazer o que o coração manada.
ExcluirÓtima entrevista!
ResponderExcluirObrigada Carol !
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