O post de hoje é uma entrevista com Arthur Dapieve: jornalista, escritor e professor de jornalismo cultural da PUC-Rio. Arthur trabalha também no Jornal O Globo e é um apaixonado por música. Crítico Musical que vai do jazz ao rock, já escreveu um livro sobre Renato Russo, O Trovador Solitário. Nessa entrevista ele contou um pouco sobre a sua trajetória, sobre música e falou sobre a polêmica envolvendo a biografia não autorizada do Roberto Carlos.
Arthur - Sim, sempre, mas ninguém me influenciou especificamente... Acho que quem realmente me influenciou quando eu era criança foram o Tio Patinhas, o Asterix e o Hercule Poirot, detetive criado pela Agatha Christie. Foi gostar muito de ler que me levou a me arriscar escrevendo também.
2) Qual música compõe a trilha sonora da sua vida?
Arthur - Esta é difícil ... Vou mudando de trilha de quando em quando, não há uma única canção oi música que dê conta de todos os momentos da minha vida. No momento, minha trilha é "Giz", da Legião Urbana, mas já foi "Vento no litoral", também da Legião, ou "Wish you were here", do Pink Floyd ...
3) Você já pensou em ter outra profissão?
Arthur - Sim. Quando era criança, pensei em ser engenheiro nuclear e advogado. Mesmo quando entrei na PUC, eu pensava em fazer Publicidade e Propaganda. Mudei de ideia porque me identifiquei muito mais com colegas e professores de Jornalismo.
4)Você escreveu a biografia de Renato Russo, O Trovador Solitário. Como você analisa a polêmica envolvendo a biografia não autorizada do Roberto Carlos, escrita por Paulo César de Araújo, que foi retirada de circulação?
Arthur - "O trovador solitário" é um perfil, isto é, ele é mais curto e tem uma abordagem mais parcial que uma biografia. Não dá conta de todos os aspectos da vida do Renato ou de outro personagem. Fora isso, um perfil está potencialmente tão sujeito a censura quanto uma biografia ou até mesmo um livro de história. A retirada de circulação do livro de Paulo César de Araújo é apenas o caso mais gritante do mal que a cultura brasileira sofre na mão de leis que entram em choque com a liberdade de expressão prevista na Constituição Federal. A atual polêmica envolvendo os membros do grupo Procure Saber mostra o quão autoritária é a alma brasileira, infelizmente.
5)" O mundo é um moinho". Você acredita que o jornal impresso vai resistir aos avanços da tecnologia e sobreviver ao tempo?
Arthur - Acho que sim, a menos que a Humanidade acabe com todas as árvores e não tenha mais de onde extrair o papel... O que já está acontecendo é o jornal impresso ter de dividir espaço com a mídia eletrônica. Cada um tem seus pontos fortes e seus pontos fracos. Imagino que vá acontecer o mesmo que aconteceu com os suportes para música. Hoje, arquivos digitais, CDs e LPs convivem, atingindo públicos diferentes ou o mesmo público em "momentos" diferentes de audição ou idade.
6) Por que o Jornal do Brasil deixou tanta saudade? Você acredita que ele ainda pode voltar a ter sua versão impressa?
Arthur - Porque era excepcionalmente bom até o começo dos anos 1990 e porque foi o último jornal a dividir certo tipo de leitor, o formador de opinião, com "O Globo". Depois que o JB se foi, a concorrência no Rio praticamente acabou, o que é ruim para a imprensa brasileira, para os jornalistas e para os leitores. Não acredito que ele volte a circular no papel. O custo dessa operação já é muito caro, mesmo se não levarmos em conta todas as dívidas deixadas pelo jornal.
7) A música brasileira já teve grandes nomes que ficaram marcados para sempre na memória de gerações, como Renato Russo e Cazuza. Como você avalia a música brasileira atual? Existe uma saudade dos aristas que faziam poesia com as letras das músicas?
Arthur - Bem, eu tenho saudade disso, mas parte do público e dos artistas atuais não tem ... Não apenas as letras pioraram muito desde a década de 1980 como parece que os letristas atuais têm medo da emoção, assim como os intérpretes. É muito estilizado, frio, sem tesão ... Daí, haver uma certa nostalgia em torno do Renato, do Cazuza ou, ainda, da Cássia Eller. Daí, bandas mais antigas continuarem sendo as grandes bandas de rock no país. A saudade se instala nos vazios que o presente deixa.
8) Você acha que a música tem a capacidade de provocar mudanças, tanto na sociedade quanto nos indivíduos?
Arthur - Ela provoca mudanças primeiro nos indivíduos e depois, quando a quantidade ou a qualidade desses indivíduos se torna significativa, nas sociedades. Acho que nenhuma outra forma de arte tem esse poder, nem o cinema.
9) Você acha que o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalista pode desestimular os jovens a seguir essa profissão?
Arthur - De modo algum, a não ser desestimular quem deveria ser desestimulado mesmo. Afinal, a gente não abraça uma carreira, não abraça toda uma vida, pensando em obter um diploma. É muito, muito mais que isso. O fim da obrigatoriedade, quando voltar a valer, vai é elevar o nível dos jornalistas. As melhores imprensas do mundo são as de países onde não há obrigatoriedade, com as dos EUA e da Inglaterra.
10) O que você considera essencial para quem quer ser jornalista?
Arthur - Ler e escrever muito, conhecer bem o seu idioma e ter curiosidade pelo mundo.
Conheça alguns livros escritos por Arthur Dapieve:
- De cada amor tu herdarás só o cinismo (romance)
- Morreu na contramão
- Guia de rock em CD
- Miudos Metafísicos
- Renato Russo: O Trovador Solitário
Escute as três músicas que Arthur citou na entrevista: "Giz" e "Vento do litoral", do Legião Urbana e "Wish you were here", do Pink Floyd.
Beijos,
Sensacional a história e a opinião do professor que, assim como eu, é apaixonado e extremamente crítico com a arte da música. Gostei muito.
ResponderExcluirThiago Soella
Que bom que você gostou Thiago!
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