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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Entrevista com Bruno Dieguez

Olá,                  
O post de hoje é um entrevista com Bruno Dieguez, um profissional de comunicação com um currículo extenso, que trabalha com televisão e ainda é professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, das disciplinas "Comunicação em Televisão" e "Laboratório de telejornalismo".
                         
Bruno se formou em jornalismo pela PUC-Rio em 2003. Atualmente, é o Diretor-executivo e sócio na produtora de conteúdo audiovisual Orgânica Produções: trabalhos customizados para empresas, desenvolvimentos de programas de TV e co-produção do MIT TV, programa da Mitsubishi Motors do Brasil exibido mensalmente pelo canal Band Sports, Gerente de comunicação na X-Mart, consultoria de marketing na área de hotelaria de luxo. Além de acumular todas essas funções, Bruno faz  MBA em Marketing no IAG na PUC-Rio. Nessa entrevista ele vai falar sobre televisão, as mudanças que estão acontecendo nos programas e sobre a relação das novas tecnologias com a televisão. 


1)Como você analisa o sucesso de vídeos como o "Porta dos Fundos" que são um sucesso na internet e conquistaram o público? Existe uma fórmula para obter audiência?

Bruno - Não há fórmula única para obter audiência, nem na TV, nem na internet. Há uma infinidade de públicos, com interesses diversos e espaço o suficiente para que projetos audiovisuais variados emplaquem. O “Porta dos Fundos” é “apenas” um dos filões de sucesso do nosso tempo e não está sozinho nessa linha “humor sem amarras bem produzido, filmado e editado”. Mas certamente é o mais bem sucedido entre os similares sites de vídeos nessa linha. Eles entregam ao público um produto muito bem feito, com um timing perfeito de contemporaneidade, em sintonia com um momento de reação ao exagero do politicamente correto. Se pensarmos em termos de estrutura, podemos identificar que são vídeos curtos, de roteiros dinâmicos, atuações brilhantes e regularidade de distribuição. Além da bela embalagem, há consistência de conteúdo. Toda segunda e quinta-feira, às 11h da manhã, sabemos que temos novos episódios fáceis de assistir, compreender e compartilhar.

2)Qual foi o acontecimento que marcou a sua memória e que foi transmitido pela TV?

Bruno - As Olimpíadas de Barcelona, em 1992. Minha família é de origem espanhola, aqueles jogos foram muito revolucionários para a cidade e eu tinha de 10 para 11 anos na época. Já estava me “viciando” em TV, minha família acompanhou várias modalidades e sempre admirei muito as transmissões esportivas.

3)Você acredita que na televisão é possível existir um debate crítico e não ser unicamente um meio de entretenimento?

Bruno - Sim e não.
Sim porque é possível fazer televisão com algum aprofundamento crítico e provocar reflexão no telespectador, fazendo com ele aprenda algo que ele não sabia antes de ter contato com aquele conteúdo. Depende do que é exibido e de como essa emissão é recebida por quem a assiste; o público pode perceber e se relacionar de formas diferentes com o mesmo programa de TV.E não porque não acredito que possa existir boa televisão sem entretenimento. A função primeira desta mídia é entreter, no sentido mais amplo do verbo, que não se restringe à diversão. Prender a atenção do público é tudo o que a TV de alta qualidade almeja. E por que isso não pode estar atrelado a um conteúdo mais “consistente”, digamos assim? Por que o entretenimento precisa necessariamente ser entendido como algo ruim?

4)Com o avanço das tecnologias, a TV perdeu um pouco o seu espaço. A atenção das pessoas agora não é focada em um único objeto.  Como o conteúdo produzido deve ser adaptado para essas mudanças? Qual é a estratégia para chamar a atenção do telespectador?

Bruno - Eu não seria tão taxativo em dizer que a TV perdeu o seu espaço. Acho mais apropriado falar em dividir o espaço que antes era quase exclusivo. O consumo de conteúdo de TV está crescendo com intensidade em todo o mundo, inclusive no Brasil. O que há de diferente é que as pessoas agora consomem televisão não apenas da forma tradicional, no aparelho de TV, seguindo a programação imposta pelas emissoras. Essa lógica ainda se sustenta, pois o hábito de ver TV e ser “surpreendido” pelo que está no ar é muito arraigado em muitas culturas, como a brasileira. Mas a tendência que muitos adotantes iniciais já incorporaram é a liberdade de assistir o que quiser, onde quiser, quando quiser. São os DVRs (digital video recorders, como o HD Max da NET), o vídeo on demand (como o Now da NET em aparelhos de TV e o Muu da Globosat em plataformas online) e o streaming (como o Netfllix, a Apple TV e o HBO Go) – além das replicações disso tudo em sites como o You Tube e outros mais específicos que contam com arquivos de programas de TV para download. Em suma, as novas tecnologias deram mais liberdade de o telespectador montar a sua própria grade de programação. E, agora sim respondendo diretamente a sua pergunta, é claro que a produção de conteúdo deve ser adaptada para esta nova realidade. Há vários caminhos sendo testados e um dos mais efetivos até o momento é produzir e editar todos os episódios de uma série e lançá-los ao público de uma vez só. Assim ele pode assistir em sequência, em uma única tacada, sem precisar esperar semana a semana para consumir um novo pedaço daquele produto. Essa é uma estratégia para atrair o espectador. Outra – mais condizente aos programas ao vivo e/ou cujo formato permite alguma interatividade com o público – é investir justamente nas ferramentas que aumentem a possibilidade dessa via de mão dupla. Sobre o foco de atenção do público, a segunda tela é um caminho sem volta. Se antes nos dividíamos entre a TV e o rádio ou pessoas a sua volta, agora assistimos televisão com a tela do computador e/ou tablet e/ou smartphone a dedos de distância. Prontos e ávidos para comentar o que nos impacta e seguir o que os nossos contatos estão repercutindo. O telespectador dos novos tempos quer se sentir cada vez mais parte do mundo da TV que ele tanto ama e odeia: opinar, interferir, produzir, compartilhar. É um prosumer de televisão. Esse é o futuro e ele já chegou.

5)Os programas têm adotado cada vez mais a interatividade, se comunicando com o público através das redes sociais. Quais são os benefícios dessa forma de se relacionar com o público?

Bruno - Dar ao público a possibilidade de ele se manifestar de forma mais ativa em relação aos programas é uma forma de aumentar as chances de ele se relacionar de forma mais profunda com aquele conteúdo: a audiência tende a se fidelizar e se engajar na promoção espontânea do programa para sua rede de contatos. Se, além de opinar o público tiver alguma brecha para também produzir conteúdo e/ou influenciar os rumos da produção em curso, mais poderoso esse público se sentirá. É uma potencial bola de neve de adesão aos conteúdos multiplataformas e interativos.

6)A TV Globo fez uma troca de apresentadores, como no caso do Zeca Camargo, que saiu do Fantástico e foi para o Vídeo Show. Como você analisa essa "dança das cadeiras"? 

Bruno -  É algo natural e de uma certa forma cíclica na Globo, assim como em toda grande empresa. De tempos em tempos eles mudam os apresentadores de posto. Para incentivar os profissionais, mexer com a atenção da audiência e mesmo dar uma sacudida nos programas. Cada apresentador pode atribuir um tom próprio e diferenciado ao programa que conduz. Esse caso que você conta está ligado a uma troca mais ampla: o Zeca vai com a Fernanda Lima para o Video Show, substituindo André Marques e sua trupe; também saiu do Fantástico a Renata Ciribelli, que será repórter especial do programa em NY; para o lugar dela foi a Renata Vasconcellos, que saiu do Bom Dia Brasil, abrindo espaço para a Ana Paula Araújo; esta deixou o RJ TV 2a edição, posto agora ocupado pela Ana Luiza Guimarães, que deixou o Bom Dia Rio e cedeu lugar para o Flavio Fachel, que veio do escritório de NY. O Marcio Gomes saiu do RJ TV 1a edição e foi ser correspondente em Tóquio, no lugar do Roberto Kovalic, que foi para Londres; no lugar do Marcio entrou a Mariana Gross, que vinha sendo testada como apresentadora conduzindo a parte de trânsito do Bom Dia Rio. Enfim, uma grande roda de mudanças, boa parte deles como forma de oxigenar o jornalismo da casa e manter seus profissionais motivados com novos desafios. Mas focando na ida do Zeca para o Video Show, isso me parece uma estratégia de reposicionamento do Video Show, que há tempos parece muito acomodado no mesmo formato. Por trás disso também está uma mudança de núcleo do programa: ele saiu da alçada do Boninho (que incorporou o Caldeirão do Huck aos seus domínios) e foi para o Ricardo Waddington, que chegou querendo promover uma grande reformulação e reconquistar um público que pode ter se desligado do Video Show. O Zeca tem grande potencial para transformar o programa, trazendo mais credibilidade, consistência e quadros inovadores. E a Fernanda Lima, que será seu par, tende a atrair a atenção também. Ela funcionou muito bem nas três temporadas do Amor & Sexo e já provou grande versatilidade como apresentadora em outras ações na emissora. O novo Video Show tem tudo para ser um sucesso. Parece que esta nova versão estreia já em novembro...

9) Quais são os pré-requisitos para trabalhar na televisão? 

Bruno - O profissional de TV talvez seja o mais multiuso daqueles que trabalham com comunicação. Os mais bem sucedidos geralmente dominam mais de uma função na cadeia de produção. Mesmo que não execute todas as etapas no dia a dia, precisa estar pronto para atuar com criação, produção, captação e edição. Se souber circular entre as diferentes áreas ou ao menos tiver um mínimo conhecimento de cada parte do processo, tende a se destacar no meio. Televisão é trabalho em equipe; compreender os desafios e valorizar o trabalho de cada membro de sua equipe é meio caminho andado para alcançar bons resultados.

10)  Qual conselho você daria para quem está começando e quer trabalhar na TV?

Buno - “Keep the heads up”. Televisão é oportunidade, do começo ao fim. Para saber da existência de uma oportunidade é preciso estar atento ao que está acontecendo a sua volta e conseguir lidar com os desafios que surgirem. Entrar no mundo mágico da TV e se manter lá não é tarefa fácil. Requer suor, jogo de cintura, adaptabilidade e humildade. É um pouco disso tudo que lapida um natural talento para se comunicar na linguagem audiovisual.

Beijos, 


4 comentários:

  1. Excelente post! Muito interessante poder ler uma entrevista dessa!!
    Parabéns e continue assim!

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    1. Que bom que gostou João! Obrigada, continue lendo o blog que vai ter mais entrevistas interessantes!

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  2. Adoro o Bruno como professor e como pessoa! Excelente escolha de entrevistado, Ju!

    Sucesso!

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